terça-feira, 13 de maio de 2025

Proposta de questionário para alguns capítulos.

 
Capítulo 1
Relação Rei/Rainha e a promessa da construção do convento em Mafra
- Apresentação de um facto histórico: promessa da construção de um convento franciscano em Mafra;
- Narração satírica das motivações desta intenção: promessa do rei D. João V de construir um convento, caso a esposa, D. Maria Ana Josefa, lhe desse um herdeiro;
- Sonhos de D. Maria Ana e de D. João V com o futuro descendente…

1.1.Centra-te na relação entre o Rei e a Rainha. Carateriza-a na forma como se relacionam. Fundamenta com exemplos do texto.
1.2. Qual objetivo que o Rei e a Rainha perseguem e qual a promessa formulada pelo Rei.
1.3.Tendo em conta a perspetiva do narrador, refere traços que se destacam da personalidade do Rei e da Rainha.

Capítulo 2
Os milagres conseguidos pelos franciscanos e o seu desejo na construção do convento
- “ O célebre caso da morte de Frei Miguel da Anunciação” que conserva o corpo intacto;
- A locomoção da imagem de Santo António, numa janela, que assustou os ladrões;
- A recuperação das lâmpadas do convento de S. Francisco de Xabregas, que tinham sido roubadas…
- A gravidez da rainha;
- O desejo dos franciscanos, desde 1624, de construção de um convento em Mafra.

Capítulo 3
· A situação socioeconómica: excesso de riqueza/ extrema pobreza
- Os excessos do Entrudo e a penitência da Quaresma;
- A impostura de alguns penitentes que “têm os seus amores à janela e vão na procissão menos por causa da salvação da alma do que por passados ou prometidos gostos do corpo”
- A devoção das mulheres que, com a liberdade de percorrerem as igrejas sozinhas, aproveitam para encontros com os amantes secretos;
- A situação da rainha que, grávida, só podia sonhar com o cunhado D. Francisco;
 
3.1. O narrador faz-nos uma descrição da celebração do Entrudo, descrevendo o espaço social que se manifesta nos exageros comportamentais do povo. Explica por palavras tuas esse espaço social, dando alguns exemplos ilustrativos.
 3.2. Existe uma mudança radical no comportamento do povo na celebração da quaresma em relação ao entrudo. Olhando para a descrição da procissão da quaresma, põe em evidência comportamentos exagerados do povo que demonstrem o seu radicalismo religioso.
 3.3. Destaca comportamentos amorais do povo que o olhar crítico e irónico do narrador acentua na sua análise dos crentes por toda a Lisboa.

Capítulo 4
Baltazar Sete-Sóis regressa da guerra maneta
- O passado “ heróico” de Baltazar Mateus, o Sete- Sóis, que perde a mão esquerda nas lutas de Olivença;
- A viagem até Lisboa por Évora, Montemor, Pegões e Aldegalega, matando um ladrão que havia tentado assaltá-lo;
- Em Lisboa, anda pela ribeira, pelo Terreiro do Paço, pelo Rossio, por bairros e praças, juntando-se a outros mendigos.

4.1. Identifica a personagem que se destaca neste capítulo e destaca alguns traços físicos e psicológicos que o evidenciam como um homem vivido e conhecedor do mundo.

Capítulo 5
·  O auto de fé no Rossio, onde Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu se conhecem
- A rainha D. Maria Ana, no quinto mês de gravidez, não pode assistir ao auto de fé;
- Descrição de um auto de fé e os condenados pelo Santo Ofício;
- A mãe da Blimunda, Sebastiana Maria de Jesus, acusada de ser feiticeira e cristã-nova, “condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo no reino de Angola”;
- O convite de Blimunda para Baltasar permanecer em sua casa até voltar a Mafra;
- O ritual do casamento e a consumação do amor entre Baltasar e Blimunda. 

Capítulo 6
Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda. 
Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a resposta. 
Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas tentativas levadas a cabo pelo padre para voar
Interrogações de Baltasar; o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir os olhos. 
Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira). 
Descrição da passarola e convite para que Baltasar o ajude na construção da passarola. 

Capítulo 7
· Nascimento da filha de D. João V, Maria Bárbara
- Apesar de alguma decepção do rei por não ser um menino, mantém a promessa de construir o convento.

Capítulo 8

O mistério de Blimunda que come pão de olhos fechados e possui o poder de olhar dentro das pessoas;
A prova do poder de Blimunda que, ainda em jejum, sai à rua com Baltasar.
Nascimento do segundo filho de D. João V, o infante D. Pedro
Escolha do alto da Vela em Mafra para edificar o convento.

8.1. Revela o segredo da personagem Blimunda.
8.2. Descreve a forma como reagiu Baltasar à revelação de Blimunda.
8.3. Enuncia alguns exemplos dos poderes de Blimunda, aquando do passeio que eles dão pela rua.

Capítulo 9

- Mudança de Baltasar e Blimunda para a abegoaria na quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira para a construção da passarola voadora .

O padre Bartolomeu parte para a Holanda, enquanto Sete-Sóis regessa a Mafra, a casa dos pais, acompanhado de Blimunda
Tourada no Terreiro do Paço com Baltasar e Blimunda na assistência, antes de partirem para Mafra;

Capítulo 10

Baltasar, acompanhado de Blimunda, é recebido por sua mãe, Marta Maria em Mafra
Baltasar fica a saber que o pai vendeu a el-rei uma terra que tinha na Vela para a construção do convento;
Morte do infante D. Pedro, que vai a enterrar em S. Vicente de Fora;
Baltasar vai visitar as obras do convento e passa a ajudar o pai no campo
Nascimento do infante D. José, terceiro filho da rainha
Doença do rei, enquanto o seu irmão D. Francisco tenta a cunhada, revelando à rainha o interesse em tornar-se seu marido
Apesar da recuperação da saúde do rei, D. Maria Ana continua os sonhos com o cunhado.

Capítulo 11
Regresso do padre Bartolomeu, que deseja que Blimunda consiga armazenar éter composto de “vontades”
Em conversa com Blimunda e Baltasar, fala-lhes da descoberta na Holanda, de que o éter se encontrava na “vontade” de cada um;

Capítulo 12
Em Mafra, Blimunda comunga em jejum, pela primeira vez; e vê na hóstia “uma nuvem fechada”;
Inauguração da primeira pedra do convento, a 17 de novembro de 1717, procissão e bênção da primeira pedra;
Regresso de Baltasar e Blimunda a Lisboa, onde começam a trabalhar na passarola
Reflexão do narrador sobre o amor “das almas, dos corpos e das vontades”.

Capítulo 13
O padre Bartolomeu diz a Blimunda que são necessárias pelo menos duas mil “vontades”;
8 De junho de 1719: a procissão do Corpo de Deus;
Enumeração dos participantes e descrição com comentários irónicos;
 Monólogos cheios de sarcasmo do patriarca e de el-rei.

Capítulo 14
O padre Bartolomeu regressa de Coimbra, “doutor em cânones”;
O músico Sacarlatti, napolitano de 35 anos, ensina a infanta D. Mari Bárbara e toma conhecimento do projeto da passarola
 Diálogo entre Bartolomeu e Scarlatti sobre o poder extraordinário da música e a essência da verdade;
O padre revela o seu segredo ao músico e apresenta-lhe a “trindade terrestre”: ele, Sete-Sóis e Sete-Luas.

Capítulo 15
A epidemia da cólera e da febre-amarela e a recolha das “vontades” por Blimunda
Depois de cumprida a tarefa, Blimunda fica doente;
Ao toque de cravo de Scarlatti, Blimunda recupera a sua saúde;
Com as vontades recolhidas e a máquina de voar pronta, o padre Bartolomeu precisa de avisar el-rei.

Capítulo 16
A concretização da viagem da passarola voadora, com o padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda
O padre Bartolomeu descobre que o Santo Ofício já estava à sua procura;
Os três, depois de retirarem o telhado da abegoaria e colocarem tudo o que possuem dentro da máquina, decidem levantar voo;
Scarlatti, que chegara a tempo de ver a máquina subir, senta-se ao cravo e toca uma música, antes de atirar o instrumento para dentro do poço;
Os três sobrevoam a vila de Mafra; mas, com dificuldades de navegação por falta de vento, têm de aterrar.

Capítulo 17
O regresso de Baltasar com Blimunda a Mafra, onde começa a trabalhar nas obras do convento, anúncio da morte do padre Bartolomeu em Toledo
- Notícias do terramoto de Lisboa;
- Dois meses depois de ter chegado a Mafra, regresso de Baltasar a Monte Junto, onde haviam deixado a máquina de voar, para manutenção da máquina;
- Conversa às escondidas de Scarlatti e Blimunda: “resolvi vir a Mafra saber se estavam vivos.”, “Vim-te dizer, e a Baltasar, que o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão morreu em Toledo… dizem que louco…”.

Capítulo 18
Caracterização dos gostos reais e dos trabalhadores em Mafra
- Visão irónica e depreciativa de Portugal;
- Esforços colossais e vítimas causadas pela construção do convento;
- Outros relatos de histórias pessoais: Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes e Julião Mau-Tempo.
18.1. Explica o sentido da comparação estabelecida entre o Infante D. Henrique e D. João V.
18.2. Comenta a expressividade da enumeração presente, contextualizando as duas épocas referidas.
18.3. Explica a visão crítica feita pelo narrador sobre os artífices estrangeiros e os trabalhadores portugueses.

Capítulo 19
Baltasar torna-se boieiro e participa no carregamento da pedra do altar (Benedictione),
- Baltasar passa de carreiro a boieiro ajudado por José Pequeno;
- Transporte, de Pêro Pinheiro até Mafra, de uma imensa pedra: “Entre Pêro Pinheiro e Mafra gastaram oito dias completos. Quando entraram no terreiro… toda a gente se admirava com o tamanho desmedido da pedra, tão grande. Mas Baltasar murmurou, olhando a basílica, tão pequena.”;
- Morte do trabalhador Francisco Marques, que acabou esmagado sob uma roda de um carro de bois.
 
19.1. Neste capítulo destaca-se a heroicidade da personagem coletiva do povo. Refere o objetivo de irem a Pero Pinheiro. Enumera os aspetos que dão um caráter de excepcionalidade à missão dos homens.
19.2. Explica a forma como Saramago resgata do anonimato a personagem do povo, identificando a figura de estilo usada e a sua expressividade.
19.3. Ao comparar o «calhau» com uma nau da Índia, Saramago estabelece um paralelo com um período da história de Portugal. Identifica esse período e enumera três aspetos que evidenciem; o mesmo espírito do poder do Rei, o épico da façanha e o sacrifício do povo anónimo.
19.4. Carateriza o «herói» que Saramago põe em evidência. Justifica.
19.5. Identifica a personagem que sofre uma tragédia. Faz a descrição física do seu estado
trágico.
19.6. Centra-te no espaço social que envolve o transporte da pedra. Descreve-o, referindo
alguns aspetos que ilustram a dificuldade e abandono a que os trabalhadores estão votados.
19.7. Refere os dados identificativos da pedra e a reação do povo relativamente às suas
dimensões.
19.8. Explica por palavras tuas o desabafo irónico e crítico de Baltasar: «Tão grande. Mas Baltasar murmurou, olhando a basílica, Tão pequena».
Recursos expressivos:
19.9. Para dar conta da enormidade da pedra, o narrador usa recursos diversos. Evidencia a
importância de: observações em discurso direto; referências deíticas temporais e espaciais; enumeração de dados objectivos; uso da vírgula em vez de ponto de interrogação / ponto final / introdução ao discurso direto / ponto exclamação / outros usos.
19.10. «Lá no alto o mestre da manobra vai dar a voz». A colocação da laje sobre o carro que a irá transportar é minuciosamente reconstituída.
Exemplifica:
- as repetidas notações da progressão lenta da acção;
-a alternância visão de conjunto / visão de pormenor;
- a rigorosa adequação do vocabulário;
-  a expressão de sensações, com especial relevo da sensação auditiva.

Capítulo 20
Blimunda acompanha Baltasar ao Monte Junto. Depois de lá passarem a noite, Blimunda ainda em jejum, procura certificar-se de que as vontades ainda estavam guardadas dentro de cada um das duas esferas;
-Renovação da máquina voadora em Monte Junto;
-Viagem de regresso;
- Morte de João Francisco, pai de Sete- Sóis.

Capítulo 21
Decisão de D. João V de que a sagração do convento se fará em 22 de outubro de 1730, data do seu aniversário
- D. João V manifesta o desejo de construir em Portugal uma basílica como a de S. Pedro em Roma;
Decisão de D. João V: ampliar a dimensão do projeto do convento de 80 para 300 frades;
Recrutamento em todo o reino operários para Mafra;
Escolha dos homens como tijolos.

Capítulo 22
Casamento da infanta Maria Bárbara com o príncipe Fernando VI de Espanha e do príncipe D. José com a infanta espanhola Mariana Vitória;
A “troca das princesas”, em 1729, une as famílias reais de Portugal e Espanha;
Viagem ao rio de Caia para levar a princesa Maria Bárbara e trazer Mariana Vitória;
João Elvas acompanha, com um grupo de pedintes, a comitiva à fronteira;
Cerimónia do casamento com música de Domenico Scarlatti.

Capítulo 23
Baltasar vai ao Monte Junto e desaparece com a passarola
- Transporte de várias estátuas de santos para Mafra;
- Baltasar decide ir sozinho ao Monte Junto verificar o estado da passarola;
- A máquina inesperadamente levanta voo quando Baltasar “entrou na passarola” para a reparar.

Capítulo 24
Blimunda procura Baltasar, enquanto em Mafra se faz a sagração do convento, em 22 de outubro de 1730
Blimunda, inquieta e angustiada, procura o seu homem;
No cume do Monte Junto, usa o espigão de ferro de Baltasar para evitar ser violada por um frade;
Em Mafra, começam as festas da sagração do convento.

Capítulo 25
Durante nove anos Blimunda procura Baltasar por todas as partes do país;
- Em 1739, onze “supliciados”, entre eles António José da Silva, encontram-se a caminho da fogueira num auto de fé, na praça do Rossio;
- Blimunda encontra  Baltasar em Lisboa para ser queimado num auto de fé. Quando está para morrer, a sua “vontade” desprende-se e é recolhida dentro do peito de Blimunda.
25.1. O amor de Blimunda Sete-Luas por Baltasar Sete-Sóis manifesta-se profundamente na procura que faz pelo seu amado. Explicite a simbologia numerológica dos nove anos e da sétima vez que ela passou por Lisboa.
25.2. No fim do seu calvário e sofrimento, Blimunda muda a sua fisionomia e a sua personalidade. Faz uma caraterização da personagem e fundamenta com expressões do texto.
25.3. Demonstra a importância da voz que Blimunda ouvia quando chegou a Lisboa, tendo em conta o desfecho da história.
25.4. Explica a perfeição do círculo amoroso que se cumpre entre Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis, no seu encontro e na sua despedida.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Memorial do Convento; linhas de pensamento.

Videos de apoio :https://ensina.rtp.pt/artigo/memorial-do-convento-de-jose-saramago/

ou  https://www.youtube.com/watch?v=XSSHl8fHW40

 O movimento do Neorrealismo

http://www.museudoneorealismo.pt/pages/1120

 Movimento literário, surgido em Portugal, no terceiro decénio do séc. XX, que, inspirado na literatura norte-americana de preocupações sociais e no romance regionalista brasileiro, procurou instaurar uma literatura comprometida com os princípios do realismo socialista, tematizando sobretudo as condições de vida dos camponeses.

(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 2003)

 O neo-realismo literário pode definir-se como um movimento que se desenrolou aproximadamente entre finais dos anos 30 e finais dos anos 50 deste século [XX], num contexto particular, correspondendo a parte do tempo histórico-político do salazarismo e sob o signo ideológico e cultural do marxismo.

(Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Verbo, 1999)

 Movimento artístico, literário e filosófico que floresceu no pós-guerra, propondo uma revalorização do realismo tradicional e que, inspirado no materialismo dialéctico, procurava representar e dar voz aos anseios das camadas proletárias.

(Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa, Lisboa, Editorial Verbo, 2001, vol. 2)

 Quando esta geração, dos vinte anos, chegou à idade das primeiras leituras enchia toda a literatura europeia o subjectivismo, levado ao extremo em Proust, James Joyce, André Gide, Thomas mas, etc., e profundamente enraizado em Dostoïevski. Literatura intimista, por vezes psico-patológica, profundamente individualista, não correspondia, de modo algum, às necessidades positivas da juventude que nascia no post-guerra cheia de vitalidade, marcada com o desejo de viver plenamente a vida, sequiosa de claridade, de compreensão e comunhão humanas, buscando ansiosamente a verdade e a realidade.

(Joaquim Namorado, Do Neo-Realismo, Amando Fontes, in O Diabo, Lisboa, 1938)

 Os neo-realistas afirmam que só a desmitificação da consciência pode conduzir a uma arte humana que, sendo arte, seja também humana, isto é, exprime os interesses e problemas dos homens que estão destinados a continuar a História.

(Rodrigo Soares, "Carta a um pintor sonre o Neo-Realismo", in O Diabo, Lisboa, 1939)

 O Neo-Realismo não é uma escola, é o novo estudo da arte que corresponde ao advento de uma nova consciência, de uma nova cultura, de uma nova vida.

(António Ramos de Almeida, "Notas para o Neo-Realismo", in o Diabo, Lisboa, 1940)

 

Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra.
Era uma vez a gente que o construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez.

 Classificação tipológica de: Memorial do Convento

 - Romance histórico, embora haja uma narração subjectiva, estamos perante a reconstituição de ambientes e feitos da sociedade portuguesa do séc. XVIII; a sumptuosidade da corte de D. João V, a Inquisição, o povo observados como tijolos de construção do convento.

Como fundamentos históricos podemos referir: a Guerra da Sucessão espanhola, a imponente dramatização dos autos-de-fé e a sua barbárie, a construção do convento, os esponsais da Infanta Maria Bárbara, a construção da Passarola, entre outros.

 - Romance social, seguindo uma linha neo-realista, o autor dá relevância à realidade social, denunciando e criticando as desigualdades entre as classes sociais, a opulência do rei em contradição à extrema pobreza do povo oprimido, a repressão, o medo e a violência do auto-de-fé, destacando-se, assim como crónica de costumes. Estamos, pois, perante um romance de «intervenção».

 - Romance de espaço, enquanto romance que reconstitui cenários que caracterizam a época e o ambiente histórico, apresenta vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano. Veja-se os cenários de Lisboa e os lugarejos e aldeias limítrofes.

 Acção

Planos de acção:
1- construção do Convento de Mafra – o desejo do poder e a sua ostentação
2- amor de Blimunda e Baltasar – a capacidade de sobrevivência
3- construção da Passarola – o esforço e a vontade humana tudo conseguem
4- encaixe de outras narrativas

 Personagens:

D. João V
- rei absoluto por direito divino
- ser superior a que é obrigatório obedecer e amar
- vaidoso e arrogante
- personagem adúltera, com dissolução moral, dado ao amor sensual e carnal
- megalómano e egocêntrico (“Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza”)
- figura ridicularizada
- não tem qualquer laço afectivo com a rainha
 
Rainha D. Maria Josefa
- esposa de D. João V
- dedicada, obediente e respeitadora
- mulher passiva, apática e infeliz
- cumpre as regras e deveres de rainha, mas não ama o marido
- recalcada sexualmente
- devota, piedosa e frequentadora assídua de confrarias e igrejas paroquiais
- peca duplamente: sonha com o cunhado D. Francisco e esconde essa fantasia do seu confessor.

Blimunda
- mulher misteriosa de olhos fascinantes e cor indefinida
- poder extraordinário de ver o interior dos corpos e da terra: «vejo o que está dentro dos corpos […] no interior da terra»
- dotada de vidência
- sublime grandeza moral
- discreta, decidida, perspicaz, intuitiva, forte, inteligente, fiel e inabalável no amor
- mulher apaixonada e encantada
- representa a força que permite ao povo a sobrevivência, assim como contestar o poder e resistir
- o seu misticismo, ligado aos seus poderes metafísicos, dá ao inventor Bartolomeu a energia que a física ainda não havia alcançado/inventado
Por fim, passa nove dramáticos anos à procura do seu grande amor; a esse amor nem as chamas da fogueira inquisitorial conseguem pôr fim.
 
Baltasar Mateus
- homem do povo, nascido em Mafra
- sem a mão esquerda, perdida na guerra e substituída por um gancho: «pedia esmola em Évora para juntar as moedas que teria de pagar […] fazer as vezes da mão»
- trabalhador, rude, antes de conhecer Blimunda e guerreiro
- homem apaixonado e encantado
- o amor por Blimunda eleva-o espiritualmente
- sonhador – partilha do sonho do Padre de construir a passarola, ajuda-o na sua construção e participa no voo “inaugural”
- conhece Blimunda num auto-de-fé em Lisboa
- vai envelhecendo ao longo da história
Baltasar Mateus, vulgo “Sete-Sóis”, é uma das personagens principais, juntamente com Blimunda. Participou na Guerra da Sucessão de Espanha, na qual ficou sem a mão esquerda, crítica à inutilidade da participação de Portugal nessa guerra – “haveria de decidir quem viria a sentar-se no trono de Espanha (…) português nenhum”.
Foi mandado embora, sem recompensa, do exército por não ter utilidade. Participa activamente na construção da passarola, porquanto é com as instruções do Padre e as suas mãos que a obra nasce.
 
Padre Bartolomeu de Gusmão
- capelão e orador na corte
- pregador talentoso (“comparado ao Padre António Vieira”)
- angustiado pelas dúvidas religiosas
- homem culto (“doutor em canonês”) e dado a experiências aerostáticas
- sonhador, visionário e, por isso, perseguido pela Inquisição
- tem o apoio do rei D. João V
- constrói o seu projecto na quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira
- era apelidado de Voador, pelas suas ideias
- assolado pela complexidade e excentricidade, sendo um homem fragmentário e atormentado
 
A história; nasceu no Brasil (1685-1724) e cedo revelou qualidades e interesse pelas ciências e sua aplicação prática. Estudou na Holanda, aderiu ao Judaísmo e declarou, numa carta a D. João V, ter descoberto “um instrumento para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar”.
Enquanto na história a passarola voou, na vida real tal não aconteceu efectivamente.
Morre louco em Toledo, depois de fugir da Inquisição. Mais, é a sua fuga para Espanha que origina a mutação do trabalho de construção da passarola, por Blimunda e Baltasar, para o da construção do Convento de Mafra.
 
Domenico Scarlatti
- músico italiano, talentoso, culto e sonhador
- de espírito esclarecido
- professor da princesa D. Maria Bárbara, pela qual veio para Portugal
- “rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados e nascido em Nápoles há 35 anos”
- conhece e partilha o segredo da construção da passarola
- representa a arte, é a sua música que cura Blimunda
- ao ver partir a passarola esconde/atira o cravo para dentro do poço, em Monte Junto, local onde permanece eternamente
 
Tempo da História
A passagem do tempo está assinalada por marcos cronológicos explícitos e implícitos.
- 1717 – início das obras de construção do Convento, com a bênção da primeira pedra
- 1723 – surto de febre amarela em Lisboa
- 1724 – furacão em Lisboa (19 Novembro)
- 1729 – casamento dos príncipes
- 1730 – sagração da Basílica de Mafra no dia do 41º aniversario de rei (22 Outubro)
- 1739 – “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar”; reencontra Baltasar num auto-de-fé (18 Outubro)
 
Tempo do discurso
Ao nível do tempo do discurso, verificamos uma linearidade, respeitando a cronologia. No entanto, recupera-se alguns fragmentos temporais ou antecipa-se outros. As analepses são pouco significativas, justificando apenas projectos anteriores; já as prolepses conferem ao narrador o estatuto de omnisciência e transformam o discurso num todo compreensível.
 
Espaço Físico
- Terreiro do Paço
- Rossio
- São Sebastião da Pedreira
- Odivelas
- Xabregas
- Azeitão
- Alto da Vela
- Pêro Pinheiro
- Serra do Barregudo, no Monte Junto
- Torres Vedras
Existe ainda referências a outros lugares de menor importância: Jerez de los Caballeros, Olivença, Montemor, Aldegalega, Morelena, Pegões, Vendas Novas, Évora, Elvas, Caia, Coimbra, Holanda e Áustria.
- Na construção do Convento percebemos a pobreza e a miséria do povo, aliadas à sua simplicidade.
- O ambiente religioso mostra-se apto à corrupção e às situações de imoralidade.
- Casa da Blimunda; é neste espaço que se inicia a relação amorosa de Blimunda e Baltasar. É daqui que partem estas personagens ao encontro do Padre Bartolomeu para o ajudarem a construir a máquina voadora/passarola, em São Sebastião da Pedreira.
- Casa de Baltasar; espaço de comunhão familiar, encontrando Baltasar aí o calor da lareira; mais, é neste local que sonha, ama e sofre.
Grande parte do espaço psicológico da obra é-nos dado pelos recantos da vida íntima de D. João V, da rainha D. Maria Ana, de Blimunda e de Baltasar.
 
Espaço Psicológico
 
- Palácio Real; espaço onde abunda a ausência de intimidade, tratando-se de um local onde os afectos simplesmente não existem ou não passam de farsas;
- ambiente na corte é representativo do luxo, da riqueza e das aparências, um ambiente cheio de frivolidades e intrigas;
- o cenário do Memorial assenta na autenticidade histórica da promessa de D. João V, conjugada com a construção de personagens fictícias ou imaginários;
- Lisboa surge como espaço social: “boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”, mistura entre a riqueza e a pobreza extremas, não existindo meio-termo;
- Mafra surge como espaço social: constantes referências a que dava trabalho para muito gente, mas socialmente destruía muitas famílias e criava marginalização; 
- Alentejo surge como espaço social: zona representativa da pobreza, da miséria e das difíceis condições de vida dos “provincianos”.
 
Espaço Social
O cenário do Memorial assenta na autenticidade histórica da promessa de D. João V, conjugada com a construção de personagens fictícias ou imaginários.
Lisboa surge como espaço social: “boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”, mistura entre a riqueza e a pobreza extremas, não existindo meio-termo.
Mafra surge como espaço social: constantes referências a que dava trabalho para muito gente, mas socialmente destruía muitas famílias e criava marginalização.
Alentejo surge como espaço social: zona representativa da pobreza, da miséria e das difíceis condições de vida dos “provincianos”.
 
- ambiente na corte é representativo do luxo, da riqueza e das aparências, um ambiente cheio de frivolidades e intrigas.
- na construção do Convento percebemos a pobreza e a miséria do povo, aliadas à sua simplicidade.
- o ambiente religioso mostra-se apto à corrupção e às situações de imoralidade.
- Palácio Real; espaço onde abunda a ausência de intimidade, tratando-se de um local onde os afectos simplesmente não existem ou não passam de farsas.
- Casa da Blimunda; é neste espaço que se inicia a relação amorosa de Blimunda e Baltasar. É daqui que partem estas personagens ao encontro do Padre Bartolomeu para o ajudarem a construir a máquina voadora/passarola, em São Sebastião da Pedreira.
- Casa de Baltasar; espaço de comunhão familiar, encontrando Baltasar aí o calor da lareira; mais, é neste local que sonha, ama e sofre.
 
Narrador
- narrador heterodiegético: o narrador relata a história, na qual não participa como personagem, apenas sabe o que se passou e relata-o, narra na terceira pessoa.
- narrador homodiegético: o narrador participa na acção como personagem secundária: «e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus», narra na primeira, segunda e terceira pessoa.
- narrador omnisciente: o narrador é simultaneamente personagem principal, tendo conhecimento total dos acontecimentos passados e futuros, podendo divagar dentro da história e transmitir as sensações das personagens (p. ex: o narrador está a narrar a procissão no momento em que ocorre).
 
Linguagem e estilo
- Transgressão das regras gramaticais de pontuação;
. Encontramos o uso subversivo da maiúscula no interior da frase;
. Utilização predominante do presente, o que marca o fluir da narração e do tempo;
. Mistura dos discursos; directo, indirecto, indirecto livre, monólogos interiores o que nos aproxima da tradição oral, revelando uma interacção entre o narrador, o contador, e os ouvintes;
. Marcas da coloquialidade;
. O tom cómico, trágico, épico;
-supressão dos pontos de interrogação e exclamação, bem como dos dois pontos e dos travessões;
-predomínio da ironia, dos diminutivos, dos advérbios de modo, da adjectivação, da anáfora, da enumeração, da personificação…
- utilização do Registo de Língua Familiar e Popular;
- oposições sugeridas por vocábulos antónimos;
- construção frásica Ÿ frases muito longas;
- utilização do polissíndeto (repetição dos elementos de ligação);
- ausência de sinais gráficos indicadores de diálogo;
- exclamações e “apartes”;
- intervenção frequente do narrador através de comentários;
- emprego de aforismos, provérbios e ditados populares;
- figuras de estilo: metáfora; ironia; hipálage; enumeração.
 
Características de pontuação
. Como marca essencial do estilo de Saramago podemos referir a ausência de pontuação convencional, com a vírgula a assumir um papel de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas.
 
Tempo do Discurso
 
O tempo da história dura 28 anos, entre 1711 e 1739.
- 1711 – início da acção; D. João V promete erguer o Convento de Mafra caso tenha um filho no espaço de um ano.
 
Simbologia
Construção da passarola; experiência alquímica. Pela alquimia pretende-se obter o acabamento e a perfeição do homem neste mundo.
Passarola; simboliza a esperança feita espaço, implicando a harmonia entre o sonho e a realização.
Voar; conceder ao homem um espaço de liberdade.
Verbo; tentar dar respostas ao desejo infinito de explicações.
Blimunda e Baltasar (Homem e Mulher); representam a plenitude e a união exemplar, buscando o bem humano.
Silêncio; interrogação e resposta; permite uma comunicação em profundidade.
Padre Bartolomeu e Scarlatti; possibilidade de articulação entre a cultura e o humano, o saber e o sonho, o conhecimento e o desejo.
Sermão do Corpo de Deus; enigma entre Deus e a Ciência.
Trindade Terrestre (Bartolomeu, Baltasar e Blimunda); a capacidade do homem e a sua infinita capacidade de construir.
Espaço Circular; a unidade, a perfeição, o tempo e a infinitude.
Nuvem fechada; distancia entre a vida e a morte.
Sete; perfeição, totalidade, associado à espiritualidade, introspecção, busca de conhecimento e intuição profunda.
Nove; associado à finalização de ciclos, ao altruísmo e ao amor universal. Também é visto como um número de sabedoria e compaixão.
Música; esperança feita som.
Convento de Mafra; representa a ostentação régia e o misticismo religioso, mas é também testemunho da dureza a que o povo estava sujeito.


Memorial do Convento; classificação tipológica.

- romance histórico, embora haja uma narração subjectiva, estamos perante a reconstituição de ambientes e feitos da sociedade portuguesa do séc. XVIII; a sumptuosidade da corte de D. João V, a Inquisição, o povo observados como tijolos de construção do convento. Como fundamentos históricos podemos referir: a Guerra da Sucessão espanhola, a imponente dramatização dos autos-de-fé e a sua barbárie, a construção do convento, os esponsais da Infanta Maria Bárbara, a construção da Passarola, entre outros.
- romance social, seguindo uma linha neo-realista, o autor dá relevância à realidade social, denunciando e criticando as desigualdades entre as classes sociais, a opulência do rei em contradição à extrema pobreza do povo oprimido, a repressão, o medo e a violência do auto-de-fé, destacando-se, assim, como crónica de costumes. Estamos, pois, perante um romance de «intervenção».
- romance de espaço, enquanto romance que reconstitui cenários que caracterizam a época e o ambiente histórico, apresentando vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano. Veja-se os cenários de Lisboa e os lugarejos e aldeias limítrofes.