terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O épico de Brecht

Bertolt Brecht (1898-1956), poeta e dramaturgo alemão.

Dava grande importância à dimensão pedagógica das suas obras de teatro. Defendia a distanciação entre espectador e as personagens, sendo contrário à passividade do espectador, a sua intenção era formar e estimular o pensamento crítico do público. Para isso, servia-se de efeitos de distanciamento, como máscaras, entreactos musicais ou painéis nos quais se comentava a acção. Procurava despertar no espectador uma tomada de consciência. Sendo um autor de comprometimento político, com ideais marxistas, rompe com o teatro naturalista. Para ele, Teatro é comprometimento, com objectivo de mudar a sociedade. Para ele, «O Teatro não está ao serviço do poeta, está ao serviço da sociedade».

Samuel Beckett (1906-1989), Prof. Univ. em França; dramaturgo irlandês.

Um dos fundadores do teatro do absurdo, é considerado um dos principais autores do século XX. Com «Esperando Godot», Beckett iniciou, ao mesmo tempo que Ionesco, o teatro do absurdo. As suas personagens reflectem um mundo onde não se acredita no universal e no divino transcendente, no qual o homem é deixado sozinho e sem nenhum suporte de fé, daí tudo ser válido para um entendimento do mundo, donde o absurdo se pode afigurar como uma resposta válida para a angústia do homem. Em 1969, Beckett ganhou o Prémio Nobel de Literatura. Cultivou temas como a solidão, o isolamento, o sofrimento.

John Osborne (1929-1994), dramaturgo inglês.

Ligado ao movimento dos «rapazes zangados» «angry young men». Com a obra «Look Back in Anger» (1956) revolucionou o teatro Inglês. É uma declaração de guerra absurdo. Uma declaração de guerra contra um império em decadência (anos 50). Apresenta como causas; a nostalgia, a depressão e perda de notoriedade de Inglaterra. No seu mais famoso jogo, Osborne castigou a hipocrisia da classe média baixa, com o seu humor «excoriating». Era contra o «Establishement», procurando pôr em causa as bases do poder tradicional, visava a reforma social.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Felizmente há Luar! Símbolos, estrutura

1 – A saia verde

Ao longo da vida: a felicidade; a esperança; a liberdade

No momento da morte: a alegria do reencontro; a tranquilidade

2 – «Felizmente Há Luar!» / A luz/ A noite/ O luar

O título é referido duas vezes ao longo da peça. Primeiro por D. Miguel, salientando que o Luar permitirá à população de Lisboa testemunhar as execuções ao longo da noite, funcionando como elemento dissuasor dos espíritos revoltosos.

Um segundo momento, acontece no fim da obra pelas palavras de Matilde, dando ênfase ao Luar como para desmascarar e mostrar à população o sinal que necessitavam para criar um espírito de revolta contra a tirania e a injustiça.

A luz exprime uma carga semântica associada à vida, à saúde, à felicidade, à revelação e ao conhecimento. Pelo contrário, a noite transportam consigo as trevas e conota-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte.

A lua reflecte a luz que o sol lhe proporciona, é dependente e encerra fases, exprimindo-se em formas. Assim, prefigura a dependência, a periodicidade e a renovação. A lua é um símbolo de transformação e de crescimento.

Sob esta dupla perspectiva, a expressão: « Felizmente há Luar» pode indiciar por um lado, as forças das trevas, do ardil obscuro, do anti-humanismo. No entanto, a luz pode ser redentora e o luar simbolizar a caminhada da sociedade em direcção à redenção, neste contexto a libertação da ditadura a favor da democracia.

3 – A Fogueira/ O lume

Representa o máximo da repressão e do terror.utilizam, mas paradoxalmente pode ser fonte de luz e de calor para purificar a sociedade.

4 – A moeda de cinco réis

Surge como referência de esmola e caridade dos poderosos e ricos para com os pobres.É um símbolo de desrespeito e apresenta-se como represália, quase vingança, na atitude de Manuel ordenar a Rita para dar a moeda a Matilde.

5 – Os Tambores

Instrumento de guerra, associado a repressão, provocam o medo e prenunciam uma atmosfera trágica da acção.

Estrutura externa e estrutura interna

Exposição - Acto I; apresentação das personagens e da época em que a acção decorre (referência às invasões francesas, à ausência do Rei D. João VI, ao poder militar britânico).

Conflito - Acto I; acção dos delatores e do poder instituído, organização da prisão de Gomes Freire. Climax do texto; Acto II; prisão do General Gomes Freire d´ Andrade.

Desenlace - Acto II; morte do General Gomes Freire d´ Andrade em S. Julião da Barra.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Felizmente Há Luar - personagens

Gomes Freire – figura carismática, que preocupa os poderosos, acredita na justiça, luta pela liberdade e arrasta os pequenos. Considerado um “estrangeirado”, revela-se simpatizante das novas ideias liberais, tornando-se para os governantes um elemento subversivo e perigoso. O povo elege-o como símbolo da luta pela liberdade, o que é incómodo para os “reis do Rossio”. Daí a decisão dos governantes pelo enforcamento, seguido da queima, para servir de exemplo a todos aqueles que temem afrontar o poder político.

D. Miguel Forjaz – primo de Gomes Freire, prepotente, assustado com transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista; nas palavras de Sousa Falcão, D. Miguel “é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa”.

Principal Sousa – fanático, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os Franceses, porque “transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados!”; afirma, preocupado, que “Por essas aldeias fora é cada vez menor o número dos que frequentam as igrejas e cada vez maior o número dos que só pensam em aprender a ler...”.

Beresford – poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico; a sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação “Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.”

Vicente – demagogo, sarcástico, falso humanitarista, movido pelo interesse da recompensa material, adulador no momento oportuno, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado, mostra-se capaz de recorrer à traição para ser promovido socialmente... Autocaracteriza-se quando diz: “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força. O general não tem uma nem outra e (...) Os degraus da vida são logo esquecidos por quem sobe a escada... Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem... Do alto do poder, tudo o que ficou para trás é vago e nebuloso. (...) Nunca se fala de traição a quem sobe na vida...”.

Manuel – “O mais consciente dos populares”, andrajosamente vestido; assume algum protagonismo por dar início aos dois actos, com as mesmas indicações cénicas: a mesma posição em cena, como única personagem intensamente iluminada, os mesmos movimentos e a mesma frase “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?”. Denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito (as Invasões Francesas; a “protecção” britânica, após a retirado do rei D. João VI para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e sair da miséria em que se encontra: “Vê-se a gente livre dos Franceses e zás!, cai nas mãos dos Ingleses! E agora? Se acabarmos com os Ingleses, ficamos na mão dos reis do Rossio... Entre os três o diabo que escolha ... (...) E enquanto eles andam para trás e para a frente, para a esquerda e para a direita, nós não passamos do mesmo sítio!”

Sousa Falcão – “o inseparável amigo”, sofre junto de Matilde perante a condenação do general; assume as mesmas ideias de justiça e de liberdade, mas não teve a coragem do general...

Matilde de Melo – “a companheira de todas as horas” de Gomes Freire, é uma mulher corajosa:

– exprime romanticamente o amor; reage violentamente perante o ódio e as injustiças; afirma o valor da sinceridade; desmascara o interesse, a hipocrisia: “Ensina-se-lhes que sejam valentes para um dia virem a ser julgados por covardes! Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca!”;

– ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre: “Enquanto houver vida... força... voz para gritar... Baterei a todas as portas, clamarei, por toda a parte, mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!”

Populares – representam uma classe oprimida, sobre a qual era exercida a violência; funcionam como uma espécie de “coro” (da tragédia). As suas falas denunciam a pobreza e a ironia é a sua arma: “Alguém aqui tem relógio? […]; Esqueceram-se dos relógios em casa...”.

Por outro lado, permitem-nos, através das perguntas que colocam aos seus interlocutores, situar-nos ao nível do tempo histórico:“Onde aprendeu vossemecê isso? -Em Campo d’Ourique – já lá vão dez anos (...)” ou “Em que guerra é que vossemecê andou?”

No segundo acto, as suas falas revestem o carácter de informação/comentário sobre os episódios ao nível da acção dramática: “Passaram toda a noite a prender gente por essa cidade...”; “É por pouco tempo, amigo, espera pelo clarão das fogueiras...”.

In Preparação para o exame 12º Ano, 2010, Porto Editora