Sinopse
Denunciando a injustiça da repressão e das perseguições políticas levadas a cabo pelo Estado Novo, a peça Felizmente Há Luar!, publicada em 1961, esteve proibida pela censura durante muitos anos. Só em 1978, foi pela primeira vez levada à cena no Teatro Nacional, numa encenação do próprio Sttau Monteiro.
Esta é uma peça escrita durante o regime Salazarista. No entanto, a sua representação só viria a ser possível após o 25 de Abril de 1974 por ter sido, até aí, proibida pela censura. Nesta obra, o autor faz um retrato da sociedade portuguesa no início do séc.XIX, mais precisamente em 1817, após as invasões francesas, quando o inglês William Beresford era, além de comandante-chefe do exército, o verdadeiro regente de Portugal. O autor faz uma comparação dessa época com os anos em que ele escreveu esta peça, anos 60, em que também predominavam a repressão e a desigualdade.
A acção da peça gira em torno da perseguição aos denominados mártires da liberdade, que falharam o seu objectivo de instituir uma monarquia constitucional, evidenciando principalmente a condenação à morte do general Gomes Freire de Andrade, acusado de conspirar contra a monarquia absoluta, e as tentativas frustradas de Matilde, sua esposa, para o salvar.
Eu sou um homem de teatro concreto, real, de palco. Para mim, o teatro surge quando está no palco, quando estabelece uma relação social, concreta, num povo e num grupo. O livro meramente, ou o texto, tem para mim muito pouco significado, apesar de eu ser um autor teatral. (...) Se vocês são o teatro do futuro, eu sou o do passado. Eu sou um homem para quem só conta o espectáculo. Luís Sttau Monteiro
Paralelismo Histórico
1817
- hipocrisia da sociedade
- povo oprimido e resignado
- clima de suspeição e denúncia
- luta contra o regime absolutista
- passividade e obscurantismo
- regime absolutista e tirânico
1961
- denúncia da hipocrisia social
- povo oprimido e explorado
- clima de medo e denúncia
- luta contra o regime ditatorial e totalitário
- ignorância e revolta
- regime ditatorial
Paralelismo passado/ Condições históricas dos anos 60: denúncia da violência
Tempo da história – Séc. XIX | Tempo da escrita – Séc. XX |
- Agitação social que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas, revolta contra a presença da corte no Brasil e a influência do exército britânico; | - Agitação social dos anos 60 – conspirações internas; principal irrupção da guerra colonial; |
- Regime absolutista e tirânico; | - Regime ditatorial de Salazar; |
- Classes sociais fortemente / hierarquizadas; - Classes dominantes com medo de perder privilégios; | - Maior desigualdade entre abastados e pobres; -Classes exploradoras, com reforço do seu poder; |
- Povo oprimido e resignado; - A miséria, o medo e a ignorância; - Obscurantismo, mas “Felizmente há Luar”; | - Povo reprimido e explorado; - Miséria, medo e analfabetismo; - Obscurantismo, mas crença nas mudanças; |
- Luta contra a opressão do regime absolutista; - Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia à opressão e a miséria; | - Luta contra o regime totalitário e ditatorial; - Agitação social e política c militantes antifascistas a protestarem; |
- Perseguições dos agentes de Beresford; - As denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam; - Censura à imprensa; | - Perseguições da PIDE; - Denúncias dos chamados “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar; - Censura; |
- Severa repressão dos conspiradores; - Processos sumários e pena de morte; | - Prisão e duras medidas de repressão e de tortura; - Condenação em processos sem provas; |
- Execução do general Gomes Freire, em 1817. | - Posterior a “Felizmente há Luar” – Execução do general Humberto Delgado, em 1965. |