segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Felizmente Há Luar - personagens

Gomes Freire – figura carismática, que preocupa os poderosos, acredita na justiça, luta pela liberdade e arrasta os pequenos. Considerado um “estrangeirado”, revela-se simpatizante das novas ideias liberais, tornando-se para os governantes um elemento subversivo e perigoso. O povo elege-o como símbolo da luta pela liberdade, o que é incómodo para os “reis do Rossio”. Daí a decisão dos governantes pelo enforcamento, seguido da queima, para servir de exemplo a todos aqueles que temem afrontar o poder político.

D. Miguel Forjaz – primo de Gomes Freire, prepotente, assustado com transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista; nas palavras de Sousa Falcão, D. Miguel “é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa”.

Principal Sousa – fanático, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os Franceses, porque “transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados!”; afirma, preocupado, que “Por essas aldeias fora é cada vez menor o número dos que frequentam as igrejas e cada vez maior o número dos que só pensam em aprender a ler...”.

Beresford – poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico; a sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação “Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.”

Vicente – demagogo, sarcástico, falso humanitarista, movido pelo interesse da recompensa material, adulador no momento oportuno, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado, mostra-se capaz de recorrer à traição para ser promovido socialmente... Autocaracteriza-se quando diz: “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força. O general não tem uma nem outra e (...) Os degraus da vida são logo esquecidos por quem sobe a escada... Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem... Do alto do poder, tudo o que ficou para trás é vago e nebuloso. (...) Nunca se fala de traição a quem sobe na vida...”.

Manuel – “O mais consciente dos populares”, andrajosamente vestido; assume algum protagonismo por dar início aos dois actos, com as mesmas indicações cénicas: a mesma posição em cena, como única personagem intensamente iluminada, os mesmos movimentos e a mesma frase “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?”. Denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito (as Invasões Francesas; a “protecção” britânica, após a retirado do rei D. João VI para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e sair da miséria em que se encontra: “Vê-se a gente livre dos Franceses e zás!, cai nas mãos dos Ingleses! E agora? Se acabarmos com os Ingleses, ficamos na mão dos reis do Rossio... Entre os três o diabo que escolha ... (...) E enquanto eles andam para trás e para a frente, para a esquerda e para a direita, nós não passamos do mesmo sítio!”

Sousa Falcão – “o inseparável amigo”, sofre junto de Matilde perante a condenação do general; assume as mesmas ideias de justiça e de liberdade, mas não teve a coragem do general...

Matilde de Melo – “a companheira de todas as horas” de Gomes Freire, é uma mulher corajosa:

– exprime romanticamente o amor; reage violentamente perante o ódio e as injustiças; afirma o valor da sinceridade; desmascara o interesse, a hipocrisia: “Ensina-se-lhes que sejam valentes para um dia virem a ser julgados por covardes! Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca!”;

– ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre: “Enquanto houver vida... força... voz para gritar... Baterei a todas as portas, clamarei, por toda a parte, mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo a minha!”

Populares – representam uma classe oprimida, sobre a qual era exercida a violência; funcionam como uma espécie de “coro” (da tragédia). As suas falas denunciam a pobreza e a ironia é a sua arma: “Alguém aqui tem relógio? […]; Esqueceram-se dos relógios em casa...”.

Por outro lado, permitem-nos, através das perguntas que colocam aos seus interlocutores, situar-nos ao nível do tempo histórico:“Onde aprendeu vossemecê isso? -Em Campo d’Ourique – já lá vão dez anos (...)” ou “Em que guerra é que vossemecê andou?”

No segundo acto, as suas falas revestem o carácter de informação/comentário sobre os episódios ao nível da acção dramática: “Passaram toda a noite a prender gente por essa cidade...”; “É por pouco tempo, amigo, espera pelo clarão das fogueiras...”.

In Preparação para o exame 12º Ano, 2010, Porto Editora

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