Videos de apoio :https://ensina.rtp.pt/artigo/memorial-do-convento-de-jose-saramago/
ou https://www.youtube.com/watch?v=XSSHl8fHW40
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Movimento literário, surgido em Portugal, no terceiro decénio do séc. XX, que, inspirado na literatura norte-americana de preocupações sociais e no romance regionalista brasileiro, procurou instaurar uma literatura comprometida com os princípios do realismo socialista, tematizando sobretudo as condições de vida dos camponeses.
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa,
Círculo de Leitores, 2003)
O neo-realismo literário pode definir-se como um movimento que se desenrolou aproximadamente entre finais dos anos 30 e finais dos anos 50 deste século [XX], num contexto particular, correspondendo a parte do tempo histórico-político do salazarismo e sob o signo ideológico e cultural do marxismo.
(Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Verbo, 1999)
(Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa,
Lisboa, Editorial Verbo, 2001, vol. 2)
Quando esta geração, dos vinte anos, chegou à idade das primeiras leituras enchia toda a literatura europeia o subjectivismo, levado ao extremo em Proust, James Joyce, André Gide, Thomas mas, etc., e profundamente enraizado em Dostoïevski. Literatura intimista, por vezes psico-patológica, profundamente individualista, não correspondia, de modo algum, às necessidades positivas da juventude que nascia no post-guerra cheia de vitalidade, marcada com o desejo de viver plenamente a vida, sequiosa de claridade, de compreensão e comunhão humanas, buscando ansiosamente a verdade e a realidade.
(Joaquim Namorado, Do Neo-Realismo, Amando Fontes,
in O Diabo, Lisboa, 1938)
Os neo-realistas afirmam que só a desmitificação da consciência pode conduzir a uma arte humana que, sendo arte, seja também humana, isto é, exprime os interesses e problemas dos homens que estão destinados a continuar a História.
(Rodrigo Soares, "Carta a um pintor sonre o
Neo-Realismo", in O Diabo, Lisboa, 1939)
O Neo-Realismo não é uma escola, é o novo estudo da arte que corresponde ao advento de uma nova consciência, de uma nova cultura, de uma nova vida.
(António Ramos de Almeida, "Notas para o
Neo-Realismo", in o Diabo, Lisboa, 1940)
Era uma vez a gente que o construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez.
- Romance histórico, embora haja uma narração subjectiva, estamos perante a reconstituição de ambientes e feitos da sociedade portuguesa do séc. XVIII; a sumptuosidade da corte de D. João V, a Inquisição, o povo observados como tijolos de construção do convento.
Como fundamentos
históricos podemos referir: a Guerra da Sucessão espanhola, a imponente
dramatização dos autos-de-fé e a sua barbárie, a construção do convento, os
esponsais da Infanta Maria Bárbara, a construção da Passarola, entre outros.
- Romance
social, seguindo uma linha neo-realista, o autor dá relevância à realidade
social, denunciando e criticando as desigualdades entre as classes sociais, a
opulência do rei em contradição à extrema pobreza do povo oprimido, a
repressão, o medo e a violência do auto-de-fé, destacando-se, assim como
crónica de costumes. Estamos, pois, perante um romance de «intervenção».
- Romance de
espaço, enquanto romance que reconstitui cenários que caracterizam a época
e o ambiente histórico, apresenta vários quadros sociais que permitem um melhor
conhecimento do ser humano. Veja-se os cenários de Lisboa e os lugarejos e
aldeias limítrofes.
1- construção do Convento de Mafra – o desejo do poder e a sua ostentação
2- amor de Blimunda e Baltasar – a capacidade de sobrevivência
3- construção da Passarola – o esforço e a vontade humana tudo conseguem
4- encaixe de outras narrativas
- rei absoluto por direito divino
- ser superior a que é obrigatório obedecer e amar
- vaidoso e arrogante
- personagem adúltera, com dissolução moral, dado ao amor sensual e carnal
- megalómano e egocêntrico (“Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza”)
- figura ridicularizada
- não tem qualquer laço afectivo com a rainha
- esposa de D. João V
- dedicada, obediente e respeitadora
- mulher passiva, apática e infeliz
- cumpre as regras e deveres de rainha, mas não ama o marido
- recalcada sexualmente
- devota, piedosa e frequentadora assídua de confrarias e igrejas paroquiais
- peca duplamente: sonha com o cunhado D. Francisco e esconde essa fantasia do seu confessor.
Blimunda
- mulher misteriosa de olhos fascinantes e cor indefinida
- poder extraordinário de ver o interior dos corpos e da terra: «vejo o que está dentro dos corpos […] no interior da terra»
- dotada de vidência
- sublime grandeza moral
- discreta, decidida, perspicaz, intuitiva, forte, inteligente, fiel e inabalável no amor
- mulher apaixonada e encantada
- representa a força que permite ao povo a sobrevivência, assim como contestar o poder e resistir
- o seu misticismo, ligado aos seus poderes metafísicos, dá ao inventor Bartolomeu a energia que a física ainda não havia alcançado/inventado
Por fim, passa nove dramáticos anos à procura do seu grande amor; a esse amor nem as chamas da fogueira inquisitorial conseguem pôr fim.
- homem do povo, nascido em Mafra
- sem a mão esquerda, perdida na guerra e substituída por um gancho: «pedia esmola em Évora para juntar as moedas que teria de pagar […] fazer as vezes da mão»
- trabalhador, rude, antes de conhecer Blimunda e guerreiro
- homem apaixonado e encantado
- o amor por Blimunda eleva-o espiritualmente
- sonhador – partilha do sonho do Padre de construir a passarola, ajuda-o na sua construção e participa no voo “inaugural”
- conhece Blimunda num auto-de-fé em Lisboa
- vai envelhecendo ao longo da história
Baltasar Mateus, vulgo “Sete-Sóis”, é uma das personagens principais, juntamente com Blimunda. Participou na Guerra da Sucessão de Espanha, na qual ficou sem a mão esquerda, crítica à inutilidade da participação de Portugal nessa guerra – “haveria de decidir quem viria a sentar-se no trono de Espanha (…) português nenhum”.
Foi mandado embora, sem recompensa, do exército por não ter utilidade. Participa activamente na construção da passarola, porquanto é com as instruções do Padre e as suas mãos que a obra nasce.
- capelão e orador na corte
- pregador talentoso (“comparado ao Padre António Vieira”)
- angustiado pelas dúvidas religiosas
- homem culto (“doutor em canonês”) e dado a experiências aerostáticas
- sonhador, visionário e, por isso, perseguido pela Inquisição
- tem o apoio do rei D. João V
- constrói o seu projecto na quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira
- era apelidado de Voador, pelas suas ideias
- assolado pela complexidade e excentricidade, sendo um homem fragmentário e atormentado
Morre louco em Toledo, depois de fugir da Inquisição. Mais, é a sua fuga para Espanha que origina a mutação do trabalho de construção da passarola, por Blimunda e Baltasar, para o da construção do Convento de Mafra.
- músico italiano, talentoso, culto e sonhador
- de espírito esclarecido
- professor da princesa D. Maria Bárbara, pela qual veio para Portugal
- “rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados e nascido em Nápoles há 35 anos”
- conhece e partilha o segredo da construção da passarola
- representa a arte, é a sua música que cura Blimunda
- ao ver partir a passarola esconde/atira o cravo para dentro do poço, em Monte Junto, local onde permanece eternamente
A passagem do tempo está assinalada por marcos cronológicos explícitos e implícitos.
- 1717 – início das obras de construção do Convento, com a bênção da primeira pedra
- 1723 – surto de febre amarela em Lisboa
- 1724 – furacão em Lisboa (19 Novembro)
- 1729 – casamento dos príncipes
- 1730 – sagração da Basílica de Mafra no dia do 41º aniversario de rei (22 Outubro)
- 1739 – “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar”; reencontra Baltasar num auto-de-fé (18 Outubro)
Ao nível do tempo do discurso, verificamos uma linearidade, respeitando a cronologia. No entanto, recupera-se alguns fragmentos temporais ou antecipa-se outros. As analepses são pouco significativas, justificando apenas projectos anteriores; já as prolepses conferem ao narrador o estatuto de omnisciência e transformam o discurso num todo compreensível.
- Terreiro do Paço
- Rossio
- São Sebastião da Pedreira
- Odivelas
- Xabregas
- Azeitão
- Alto da Vela
- Pêro Pinheiro
- Serra do Barregudo, no Monte Junto
- Torres Vedras
Existe ainda referências a outros lugares de menor importância: Jerez de los Caballeros, Olivença, Montemor, Aldegalega, Morelena, Pegões, Vendas Novas, Évora, Elvas, Caia, Coimbra, Holanda e Áustria.
- Na construção do Convento percebemos a pobreza e a miséria do povo, aliadas à sua simplicidade.
- O ambiente religioso mostra-se apto à corrupção e às situações de imoralidade.
- Casa da Blimunda; é neste espaço que se inicia a relação amorosa de Blimunda e Baltasar. É daqui que partem estas personagens ao encontro do Padre Bartolomeu para o ajudarem a construir a máquina voadora/passarola, em São Sebastião da Pedreira.
- Casa de Baltasar; espaço de comunhão familiar, encontrando Baltasar aí o calor da lareira; mais, é neste local que sonha, ama e sofre.
Grande parte do espaço psicológico da obra é-nos dado pelos recantos da vida íntima de D. João V, da rainha D. Maria Ana, de Blimunda e de Baltasar.
- ambiente na corte é representativo do luxo, da riqueza e das aparências, um ambiente cheio de frivolidades e intrigas;
- o cenário do Memorial assenta na autenticidade histórica da promessa de D. João V, conjugada com a construção de personagens fictícias ou imaginários;
- Lisboa surge como espaço social: “boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”, mistura entre a riqueza e a pobreza extremas, não existindo meio-termo;
- Mafra surge como espaço social: constantes referências a que dava trabalho para muito gente, mas socialmente destruía muitas famílias e criava marginalização;
- Alentejo surge como espaço social: zona representativa da pobreza, da miséria e das difíceis condições de vida dos “provincianos”.
O cenário do Memorial assenta na autenticidade histórica da promessa de D. João V, conjugada com a construção de personagens fictícias ou imaginários.
Lisboa surge como espaço social: “boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”, mistura entre a riqueza e a pobreza extremas, não existindo meio-termo.
- ambiente na corte é representativo do luxo, da riqueza e das aparências, um ambiente cheio de frivolidades e intrigas.
- na construção do Convento percebemos a pobreza e a miséria do povo, aliadas à sua simplicidade.
- o ambiente religioso mostra-se apto à corrupção e às situações de imoralidade.
- Palácio Real; espaço onde abunda a ausência de intimidade, tratando-se de um local onde os afectos simplesmente não existem ou não passam de farsas.
- Casa da Blimunda; é neste espaço que se inicia a relação amorosa de Blimunda e Baltasar. É daqui que partem estas personagens ao encontro do Padre Bartolomeu para o ajudarem a construir a máquina voadora/passarola, em São Sebastião da Pedreira.
- Casa de Baltasar; espaço de comunhão familiar, encontrando Baltasar aí o calor da lareira; mais, é neste local que sonha, ama e sofre.
- narrador heterodiegético: o narrador relata a história, na qual não participa como personagem, apenas sabe o que se passou e relata-o, narra na terceira pessoa.
- narrador homodiegético: o narrador participa na acção como personagem secundária: «e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus», narra na primeira, segunda e terceira pessoa.
- narrador omnisciente: o narrador é simultaneamente personagem principal, tendo conhecimento total dos acontecimentos passados e futuros, podendo divagar dentro da história e transmitir as sensações das personagens (p. ex: o narrador está a narrar a procissão no momento em que ocorre).
- Transgressão das regras gramaticais de pontuação;
. Encontramos o uso subversivo da maiúscula no interior da frase;
. Utilização predominante do presente, o que marca o fluir da narração e do tempo;
. Mistura dos discursos; directo, indirecto, indirecto livre, monólogos interiores o que nos aproxima da tradição oral, revelando uma interacção entre o narrador, o contador, e os ouvintes;
. Marcas da coloquialidade;
. O tom cómico, trágico, épico;
-supressão dos pontos de interrogação e exclamação, bem como dos dois pontos e dos travessões;
-predomínio da ironia, dos diminutivos, dos advérbios de modo, da adjectivação, da anáfora, da enumeração, da personificação…
- utilização do Registo de Língua Familiar e Popular;
- oposições sugeridas por vocábulos antónimos;
- construção frásica Ÿ frases muito longas;
- utilização do polissíndeto (repetição dos elementos de ligação);
- ausência de sinais gráficos indicadores de diálogo;
- exclamações e “apartes”;
- intervenção frequente do narrador através de comentários;
- emprego de aforismos, provérbios e ditados populares;
- figuras de estilo: metáfora; ironia; hipálage; enumeração.
. Como marca essencial do estilo de Saramago podemos referir a ausência de pontuação convencional, com a vírgula a assumir um papel de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas.
- 1711 – início da acção; D. João V promete erguer o Convento de Mafra caso tenha um filho no espaço de um ano.
Construção da passarola; experiência alquímica. Pela alquimia pretende-se obter o acabamento e a perfeição do homem neste mundo.
Voar; conceder ao homem um espaço de liberdade.
Música; esperança feita som.
oh stor, diga-me lá o seu mail, preciso de lhe dizer uma coisa. joana veríssimo
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