quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Memorial do Convento, José Saramago

A acção de: Memorial do Convento tem início por volta de 1711, 3 anos depois do casamento de D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria e termina 28 anos depois (1739), aquando da realização do auto-de-fé que determina a morte de António José da Silva, o Judeu, e de Baltasar Sete Sois.

A acção desenrola-se na primeira metade do séc. XVIII, período em que D. João V dirigia os destinos da nação. O seu reinado é uma continuidade da política absolutista, que era alimentada pelas enormes remessas de ouro vindas do Brasil. Neste tempo, as condições da economia portuguesa melhoraram, embora ocorressem problemas políticos com Espanha, a Guerra da Sucessão. Em Portugal vive-se um clima de iluminismo, movimento filosófico que visou difundir o racionalismo cartesiano e o experimentalismo de Bacon, conforme se demonstra no romance com a construção da passarola.

Para travar estas novas ideologias, a Inquisição reforça, nesta época, o seu poder que estende a todos os sectores da sociedade. Ao Tribunal do Santo Ofício cabe o julgamento de vários tipos de crime e os autos-de-fé constituíam a melhor forma de exibir o poder inquisitorial.

Entre o título e o conteúdo da obra existe uma relação e uma carga simbólica sugerida pelas memórias evocativas do passado e pressuposições existenciais, ao remeter-nos para o mundo místico e misterioso.

Por sua vez, o convento liga-se ao sonho dos frades que aproveitam a oportunidade para terem um convento, pretexto para reflectir a magnificência da corte de D. João V e do poder absoluto, o que se contrapõe ao sacrifício e à opressão do povo que nele trabalhou, muitas vezes aniquilado para servir o sonho de seu rei.

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